Percepções essenciais de Violência Escolar
- Por Revista ASSESP
- 24 de set. de 2014
- 3 min de leitura
Precoma afirma que crianças e adolescentes que vivenciaram violência doméstica e comunitária têm memórias negativas sobre a escola (2011). Essas vivências podem crescer e começar a pertencer àquela sociedade. Com manifestações diárias, em palavra ou em comportamento, as violências escolares acontecem no espaço físico da escola ou em razão das interações sociais que ali nascem.
Apelidos trocados entre discentes e rótulos postulados a estes pelos docentes, são apenas dois exemplos. Os crimes relacionados às drogas potencializam os índices de criminalidade e violência escolar (ASINELLI-LUZ, 2000). Há outros atos que ocorrem fora da escola, mas interferem no processo educacional, com reflexos no indivíduo de forma sistêmica; aquilo que o estudante vivencia em seu desenvolvimento humano (em casa, na família, na rua e com seus pares) será manifestado na escola. Segundo Schelb (2004) adolescentes violentos revelaram que 80% foram vítimas de graves abusos na infância ou adolescência. Abramoway e Pinheiro (2003) apontam vulnerabilidades sociais como fatores que contribuem para desencadear as violências escolares. As violências cotidianas sociais afetam a escola de forma sistêmica e sua (re)produção torna-se quase que inevitável e indissociável. Entretanto, essa não é a causa determinante das violências escolares, mas apenas um de seus aspectos (ZALUAR; LEAL, 2001), tendo como entendimento de que a violência escolar é um fenômeno social da escola, que possui vários aspectos causais.
Antropologicamente a violência é fenômeno que sempre esteve presente nas relações sociais, não ficando a escola fora dessa incidência; entretanto, ela é espaço de reflexão e de ação, devendo, portanto, discuti-la e não tolerá-la. Essa tolerância da violência escolar não pode, nem deve ser o enredo da atividade pedagógica da escola. O conteúdo, as datas e o finalizar do ano-letivo são importantes, porém a formação do cidadão e seu desenvolvimento pleno devem ser priorizados quando houver necessidade, ou seja, existindo qualquer manifestação de violência escolar e/ou incivilidade deve ocorrer ação pedagógica preventiva e/ou interventiva.
Paulo Freire deteve atenção sobre a dominação existente na Educação, escrevendo “Pedagogia do oprimido”, com ênfase à prática da violência por aqueles que oprimem e não reconhecem outro ser-humano, principalmente quem é excluído (FREIRE, 1987). Se àquela época Freire já tinha a percepção de uma Educação que liberta, hoje essa deve ser a retórica e Abbud (2010) afirma existir a necessidade dos professores descobrirem formas atualizadas de promovê-la.
A manifestação das violências escolares pode ser social, psicológica ou sócio-psicológica. As sociais voltam sua atenção às consequências, sempre danosas; as psicológicas focam na personalidade, quando não na patologia, do indivíduo; já nas sócio-psicológicas há manifestações do eu e do ambiente (AQUINO, 2010). Aquino (2010) chama atenção para a vitimização nas violências escolares, sendo a culpa sempre da outra parte, existindo dificuldade de autorreconhecimento da autoria, seja quem for seu agente ativo, não tendo polaridade única e exclusiva. (idem). Zaluar e Leal (2001, p. 159) afirmam que as relações escola/aluno e professor/aluno podem desencadear problemas de baixa autoestima, evasão e atitudes agressivas, demonstrando que a preocupação deve estar também no contexto.
Essa vitimização fica ainda mais preocupante quando tomam dimensões coletivas, em forma de perseguição da escola ou de professores por determinado aluno ou grupo, recorrendo sempre à culpabilização destes (PORTO, 2000). Crianças e adolescentes pobres estão mais sujeitos às violências físicas e psicológicas em processos de avaliação e interação na escola (ZALUAR; LEAL, 2001). A escola, espaço desenvolvimento humano pleno, deve ser palco de interação constante e de manifestações puras de cidadania, respeito e acolhimento.
Entretanto, esse mesmo espaço de pertencimento torna-se de exclusão, à medida que o preconceito se apresenta, desrespeitando as igualdades e valorizando as diferenças. Quando se desvalorizam essas em detrimento àquelas, aparecem os preconceitos, surgem como epidemia, como pandemia que ultrapassam as fronteiras de países e tomam conta de continentes. A escola deve prover formação humana, humanizadora e humanizante para formar cidadãos capazes de Respeitar e entender a todos/as.
Capitão da PMPR,
mestre e doutor em Educação pela UFPR
lucianoblasius@yahoo.com.br
* Extrato adaptado da Tese de Doutorado Compreensão da violência escolar no âmbito da Polícia Militar do Paraná.
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